Ontem foi o meu primeiro Dia da Mãe enquanto mãe. Fui mãe há 10 meses e apesar do meu bebé já ter entendido que ele e eu somos duas pessoas diferentes e que ele pode rastejar à vontade até aos sítios que quiser, fazendo de todos os objectos harmoniosas baterias, eu ainda não voltei a mim e é sobre isso que gostava de vos falar hoje.
Porque ainda não consegui perder o peso que ganhei com a gravidez?
Comecei a questionar-me sobre o porquê de ainda não ter conseguido perder o peso que ganhei com a gravidez (e também com o casamento!) e fui investigar alguma literatura sobre o assunto. Pesquisei sobre a perda de peso no pós-parto e não propriamente sobre os quilos que a alegria matrimonial nos acrescenta, apesar de ser também um tema bastante pertinente para próximas núpcias!
Os distúrbios alimentares são comuns no pós-parto
Nisto descobri que os distúrbios alimentares são comuns no pós-parto. “Uau!”, disse para mim própria, “É exactamente isso que eu estou a viver!”, e, como acontece em qualquer tomada de consciência, a dor destapou-se, fria e sem qualquer vergonha e, no imediato, abracei-me a ela sem fazer grande coisa. Embalei-a com algumas (muitas!) lágrimas, sentei-me ao lado dela sem grandes conversas, deixei-a instalar-se à vontade e ficar confortável, até que a comecei a bombardear com perguntas. Perguntei-lhe porque existia, porque me dava fome, porque me impedia de voltar ao que eu era antes de ter um bebé nos braços.
Ela foi respondendo pausadamente, apesar da minha ânsia de encontrar respostas, porque as dores são difíceis de ser compreendidas e insistem em se manter discretas e de poucas palavras. Mas, com os seus discursos, viajei à angústia dos últimos dias de gravidez em que as contracções teimavam em não dar sinal de si, até ao parto não sonhado, aos primeiros dias na maternidade em que as minhas mamas cederam aos maus tratos dos profissionais e encheram devagarinho, à minha adolescência em que atava blusas à cintura para esconder as ancas e ao recreio da escola onde alguns colegas achavam que “baleia” podia ser o meu nome do meio.
O quanto achava que ele me tinha desiludido ao longo da vida e abandonado na hora de pôr o meu filho no mundo. Estava zangada com ele! Estou zangada com ele. Para quê cuidar dele quando ele me tinha falhado em tantas coisas importantes para mim? No entanto, como não lhe ser grata se ele foi capaz de criar um novo ser humano ao mesmo tempo que aguentava jornadas de 13 horas de trabalho?
Voltei a ter conversas com o meu corpo
E agora, devagar, devagarinho, voltei a ter conversas com o meu corpo, mediadas pela dor. Tento conhecê-lo e respeitá-lo. Dar-lhe o que precisa e tirar aquilo que o lesa. Procuro não descarregar nele mágoas que não são da sua responsabilidade. Procuro perceber que culpas lhe tenho atribuído injustamente. Ao cuidar dele vou cuidando da alma… aceitando as contracções que nunca chegaram, o parto natural que terminou em cesariana e as ancas outrora escondidas pelas camisolas.
Ao cuidar dele vou cuidando do passado que me trouxe ao momento presente… vou abrindo de novo os olhos em frente do espelho… vou redescobrindo quem sou. O que ficou do que era antes de ser mãe. O que surgiu agora que sou mãe. E a dor? Perguntam vocês. Vai ficando mais tranquila e menos confortável. Vai deixando de fazer sala dentro de mim. E, sinceramente, vai-me dando muito menos fome!