Esta manhã recebi uma mensagem a agradecer o meu texto de ontem, onde falei da possibilidade real de algumas mulheres poderem não conseguir produzir todo o leite que os seus bebés precisam.

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A mensagem fez-me chorar. Na verdade, penso que chorei de alegria. Alegria por ter encontrado (ou ter sido encontrada) por alguém que passou pelo mesmo que eu e que de forma tão natural e espontânea, sem saber que a sua dor era também a minha, resolveu abrir o seu coração comigo. 

Trabalho com amamentação há cerca de cinco anos. Quando estive grávida amamentar em exclusivo era uma certeza para mim. Sabia tudo o que havia para saber. As estatísticas, as posições, a pega correcta, como avaliar um freio curto, a livre demanda, etc, etc, etc. Estava mais do que preparada! Achava eu… 

Então o meu bébé nasceu…

Nunca tive uma relação muito saudável com o meu corpo. Acabei por tratá-lo mal, comendo demais ou de menos e fugindo do exercício a sete pés. Tratei-o mal por não conseguir enfrentar as verdadeiras razões que me levavam a fazê-lo. Tratei-o mal porque não conseguia viver em paz e ele acabou por ser o “bode expiratório”. Enquanto adulta tenho dias em que me acho espectacular, como outros em que ainda sou a menina com 4 anos a sentir-se desesperada a fugir do chinelo. Do pai. Desprotegida. Desamada. 

Quando o meu bébé nasceu, o leite nunca mais descia… O bébé estava com dificuldade em ganhar peso… E eu estava morta por dentro. Zangada comigo! Zangada com o meu corpo que nem sabia fazer o básico dos básicos dos mamíferos: produzir leite! Porque é só pôr à mama!! E se não é o suficiente… É pôr mais! Voltar a pôr! E tirar leite de 2 em 2 horas, de dia e de noite, e tomar alguns galactogogos… E VAI resultar. Dizem… Se não resultar é porque não fizeste tudo o que podias, ou não querias tanto como dizes. 

E aí… A juntar à mágoa que já existe, vem também a culpa e a vergonha! A tua identidade em causa. Como pessoa e como mãe. 

E ninguém percebe a profundidade desta dor! Afinal o que interessa é que o bebé coma. Ninguém vê a mulher atrás das mamas. A mulher criança. A adolescente que está a atar blusas à cintura para a esconder. 

As pessoas que te amam apoiam-te e ouvem-te. Dizem que te admiram e dão-te conselhos e dicas para resolveres o teu problema, mas não sabem que o teu problema é um amaranhado de feridas que nem tu sabes bem onde é que está a doer.

Então foi por isso que hoje chorei ao ler um desabafo que não era meu mas que podia ser. E no encontro de dores muita cura se dá. 

Hipoplasia Mamária tem cura?

E por falar em cura quero que saibas que não há cura para a hipoplasia mamária. E que acho que devemos falar nisso. 

A hipoplasia mamária é a excepção! Não é a regra! Mas é uma excepção que existe. Que é real! Condição onde não há tecido mamário suficiente, logo, a produção está comprometida e na maioria dos casos será necessário suplementar. Não é a mulher que não quer amamentar… não é só pôr o bebé na mama mais vezes… não é só tomar umas ervas.

Amamentar com Hipoplasia Mamária

A história de amamentação numa mulher que tenha hipoplasia mamária é um ajustar de expectativas constante, é fazer malabarismos emocionais de cada vez que se dá um suplemento, é afogar a culpa de não sermos suficientes para as nossas crias. É ir buscar forças para programas de extração de leite constantes, de dia e de noite. É levar com uns olhares meio de lado de uns porque não percebem o esforço já que há leite adaptado e de outros que acham que o esforço não é tão grande porque senão haveriam litros a jorrar! 

Como sabes se tens esta condição?

Muitas mulheres só sabem que têm esta condição exactamente porque querem amamentar e se deparam com imensas dificuldades, apesar de já terem passado a sua vida, muito provavelmente, a ter dificuldades com o aspecto « estranho das mamas ». São as chamadas mamas tubulares, como se fosse um cone invertido, e muito afastadas uma da outra. Sabes que esta condição começou por ser estudada pela cirurgia plástica? O número de mulheres com mamas tubulares que recorria a cirurgia de correção era tão grande que eles começaram a questionar o que estaria envolvido nestes casos.

Se as tuas maminhas têm este formato, se não sentiste grandes alterações na mama durante a adolescência, gravidez ou pós-parto e tiveste dificuldade na amamentação, esta pode ser a causa. Procura uma consultora que tenha conhecimentos nesta área e que te saiba verdadeiramente acolher… com tudo o que esta « falta de leite » te faz! 

Obrigada H** de coração pela nossa conversa de hoje ❤️

P.S. Se estás a passar ou passaste pelo mesmo, dá um oi! Juntas somos mais fortes! 

4 pensamentos acerca de “Hipoplasia mamária. Quando a fábrica tem funcionários a menos 🤷🏻‍♀️”

  1. Oi! A minha realidade, hoje com um bebe de 2 meses, que apesar de amar maminha, tem de ser suplementado com fórmula, pois depois de todo o esforço (extracção com bomba, promil, provitae, domperidona) nada aumentou a produção (tiro cerca de 5ml de cada mama…)
    Dói muito e só a mãe que passa por isto, sabe o que estou a dizer. O sonho de ter 2 filhos foi deitado fora, pois acho que não consigo passar por esta situação novamente (este misto de emoções e sentimentos de culpa por não conseguir fazer o “básico” – amamentar
    O meu filho)

  2. Na primeira gestação apenas vi alguns vídeos sobre pega correta e toda parte de amamentação como funciona, tentei tanto dar de mama e mesmo assim ele estava sempre chorando com fome. Achei pelo fato de ter machucado o bico e procurei o posto de saúde para me auxiliar, lá foi tirado o leite com a bomba (que saiu pouca quantidade) e tentamos todas as posições possíveis, mas ele recusava mamar.
    Na segunda gestação de agora (2023), estudei muito mais e me preparei tanto por que só queria amamentação exclusiva no peito, sempre diziam que informação era a melhor preparação e é sim, mas no meu caso foi diferente de novo. Com uma bebê rn no hospital já comecei notar diferença, estava com a pega correta na maior parte das vezes porém ela sugava e largava pra pegar de novo, acabou machucando bastante. Em casa já com 3 dias de vida, ela pegava com tanta força para mamar e eu chorava com dor, mas eu dizia que minha vontade seria maior que isso, até que na madrugada ela não parava mais de chorar e tentava sugar novamente, assim repetidamente, levei algumas horas para entender que já não tinha mais leite, apertava e não saía uma gota sequer. Chorei tanto e tanto ao ver que minha filha estava era com fome e me culpei por ter ficado sem paciência para alimenta-la. Então, corremos para a farmácia na cidade vizinha às 04hrs da madrugada para buscar leite e assim que ela tomou e se satisfez, as minhas lágrimas não pararam mais de sair até que adormeci sozinha chorando.
    Devemos divulgar com mais frequência essas informações para que outras mães saibam identificar se isso ocorre com elas também, no meu caso não sabia dessa possibilidade até começar pesquisar. E fui ver todas as características são as mesmas, agora consigo me sentir um pouco menos culpada por ter que dar outro leite que não seja o meu.

  3. Obrigada por este texto! 🙏😭
    Tenho hipoplasia mamaria e só descobri este nome porque tive a minha filha este ano e mesmo com ajuda, senti que não estava a ser sustentável para mim manter a amamentação.
    Identifico-me totalmente com este texto! Tenho assimetria mamaria e corrigi a mama tuberosa com 16 anos e coloquei uma prótese no outro peito, ao qual acabei por fazer reação alérgica e tive que tirar. Nunca fui informada de que esta condição poderia afetar a amamentação. Aliás, diziam-me até que mamas pequenas não são sinal de pouco leite e, desde a adolescência, criei uma expectativa forte de que era possível amamentar em exclusivo. Pensei até que era a única no mundo que tinha esta questão e que me gerou tantas inseguranças na adolescência! O facto de perceber em pleno pós-parto de que não iria conseguir amamentar a minha filha foi muito doloroso emocionalmente. Ela precisava de ser alimentada e depois acabou por rejeitar o peito totalmente. Experimentei de tudo! Ainda estou a digerir tudo o que vivi e ler este texto, para além de me emocionar, traz-me a noção de que não sou a única a passar por isto. Tenho tanta pena de que não hajam mais profissionais a falar sobre isto! Muito obrigada por falar sobre isto 💚🙏

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