Ele disse-me que se eu não desse leite artificial ao meu bebé o iria transferir para um outro hospital.

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Assim, frio, seco, no alto do seu poder contra uma mulher acabada de parir.

Lembro-me do pânico! Da dor da cesariana no ventre e na alma. Da raiva. Da sensação de não conseguir respirar. De me sentir num colete de forças, presa e acorrentada a um sistema que não respeita mulheres nem bebés. 

Dei o meu bebé à minha mãe. Chorei como nunca tinha chorado! Não quero mais o meu bebé. Não quero mais estar aqui. Não quero nada disto! Não é suposto ser assim. Não é suposto ter sido assim. Vamos voltar atrás. Ali, no limbo entre a loucura e a tentativa de racionalizar. Ali, na barriga vazia e nas mamas que não davam ainda sinal. 

Mas filhota, toma o menino!, dizia a minha mãe. Amor, quando sairmos daqui vamos ultrapassar isto, sussurrava-me o meu marido. 

E lembro-me como se fosse hoje da imagem do meu bebé tranquilo no colo da sua avó. Fofinho. Lembro-me dos milésimos de segundo em que percebi que tinha que decidir. Lembro-me da consciência. Lembro-me de me decidir render ao que estava a acontecer. Lembro-me de pegar no meu bebé. Lavar o rosto. Engolir a dor. Lamber a ferida. 

Fiquei sozinha depois. Só com um bebé nos braços. Só. Sozinha. Lembro-me de me sentir sozinha. Meu Deus, porque me desamparaste? 

Mais tarde, deitada naquela pequena cama daquele pequeno quarto com o meu pequenino bebé, contei-lhe tudo. Contei-lhe sobre os planos que tinha feito. Contei-lhe o que estava a acontecer. Contei o quanto isso me doía. E as lágrimas caíam. E ele começou a procurar a mama e fez um encaixe tão perfeito que me fez entender que o final não estava ali. 

Nada daquilo era o fim dos planos. Nada daquilo me definia como mãe nem mulher. Não podia voltar para trás mas podia resignificar todos os acontecimentos e fazer um castelo bem bonito com aquelas pedras. 

E assim foi… e assim é. A beleza da vida reside em aperfeiçoar-nos através das imperfeições das nossas histórias para reescrevermos os finais!

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