O meu pai saiu de casa no dia em que eu fazia 5 anos. Lembro-me, como se fosse hoje, de ele ter aparecido mais tarde na festa com uma caixa de 1000 canetas de cor, que guardei religiosamente até tarde. Depois deste dia, poucas são as lembranças que tenho dele.
Lembro-me da impaciência e do desespero de quando fugia do chinelo na mão dele. Lembro-me da sensação de presença ausente. Lembro-me (e luto ainda contra!) da sensação de não me sentir amada e valiosa. Contam-se pelos dedos de uma mão os momentos de carinho que me lembro de ele ter tido comigo.
Cresci e procurei curar as feridas que ficaram. Sei que essas feridas me levaram a tomar decisões que me feriram mais. Então, sempre levei muito a sério esta coisa de se tratar a infância com a importância que ela tem! Com a consciência de que o princípio que proporcionamos às crianças as vai acompanhar por toda a vida.
Uma das coisas que mais admiro no meu marido é a forma como ele é pai. Apaixono-me mais por ele quando o vejo a olhar para o nosso filho com um sorriso babado acompanhado de um « Fogo amor! O nosso filho é mesmo fofinho! ». E nesta aventura de ser mãe, vou tentando remendar o coração de filha.
De todas as coisas do mundo que quero passar para o meu filho, a mais importante é que ele leve da infância para a vida o carimbo do amor. Que isso lhe dê tranquilidade para superar as lutas que a vida trouxer, alegria para comemorar as vitórias, gratidão para valorizar as bênçãos que receber e humildade para superar as falhas. Desejo que nas ruelas do caminho da sua vida nunca se perca. E que quando se esbarrar de caras com a desilusão e o desapontamento, consiga sempre guardar viva a criança que é hoje. Aquela que se maravilha com o mundo, com um sorriso fácil, uma gargalhada engraçada e uma energia inesgotável. Aquela criança que é incrivelmente feliz!
Feliz dia da criança para a criança que há em ti ❤️