Hoje trago-vos a história da Rute. A Rute não teve grandes problemas na sua história de amamentação, à parte de ductos entupidos e opiniões alheias, e por isso quis escrever-me.
Quis mostrar que a amamentação pode também correr bem, sem grandes problemas e que parte desse correr bem se deve à preparação que se faz antes de se amamentar. Informares-te é, sem dúvida, o melhor caminho a adoptar. E aquele que te vai empoderar! Porque com base na informação tu poderás tomar verdadeiras decisões, reagir rápido quando for preciso e, até mesmo, fugir de determinados profissionais de saúde!
Obrigada Rute pelo teu testemunho!!
“Olá, sou a Rute, tenho quase 35 anos e amamento há quase 4. Gostava de partilhar a minha história de amamentação convosco para mostrar que as coisas também podem correr bem logo desde o início. Acho que também vale a pena falar de histórias de amamentação que se desenrolam com naturalidade – ainda que com os seus desafios, como tudo na vida -, pois pode ser importante tanto para aquela mãe a quem está a correr tudo tão bem que só acha que algo deve estar mal e por isso duvida de si própria… como para aquela grávida que só vê relatos com dificuldades e sofrimento e fica com receio que lhe aconteça o mesmo. Obviamente que não quero romantizar nada nem criar falsas expectativas, cada caso é um caso e todos eles são válidos, quero só mostrar que é normal correr menos bem ao princípio assim como é normal correr bem também. Munam-se de informação e das pessoas certas, e quer corra bem ou menos bem, sentir-se-ão sempre apoiadas, acolhidas e validadas, o que é muito importante num pós-parto.
Com a informação certa também se sentirão mais confiantes e relaxadas ainda antes da jornada da amamentação começar, o que pode ajudar a que o processo depois flua com maior naturalidade. Antes da minha filha mais velha nascer, a propósito do enxoval, a minha sogra perguntou se eu já tinha biberãos, ao que eu respondi que não ia comprar. Se depois fosse preciso, logo comprava. Eis que ela pergunta: “como sabes se vais ter leite?” E eu respondo: “todas as mulheres têm!” (Eu sei que há excepções, mas naquele momento precisava de toda a positividade para contrabalançar com alguém que já estava a duvidar de mim e ainda a jornada não tinha efectivamente começado). Quando a minha filha nasceu, veio imediatamente para o meu peito e posso dizer-vos que foi a melhor sensação do mundo. Lembro-me de ela abrir os olhinhos e de eu ficar abismada com tamanha perfeição – já tinha pestanas e tudo! – e depois começou à procura da maminha. Quando a encontrou, pegou e mamou. Assim, simples.
Tive a sorte de ela pegar logo bem, de não haver problemas com freio, etc. Os mamilos nos primeiros dias ficaram um pouco doridos/gretados por ainda se estarem a habituar à sua nova condição… usei leite para ajudar a cicatrizar, na altura recomendaram-me um pouco de lanolina que usei com prudência e deixava sempre que podia os mamilos ao ar. E passou.
Quando saímos do hospital a minha filha já tinha recuperado o peso perdido. Nasceu com 2,520kg e só perdeu 40g. Lá está, tive a sorte de as coisas correrem bem e ela começar logo a aumentar o peso, senão, com uma bebé pequenina, estou mesmo a ver a pressão de alguns profissionais de saúde para a introdução de suplementos e afins.
A subida do leite passado uns dias foi um desafio para o qual também já estava avisada, as massagens, o quente/frio e a drenagem ajudaram. Continuámos sempre juntas a nossa jornada, confiantes e seguras, muito embora houvesse quem questionasse tudo a todo o momento. A minha filha, essa, continuava a evoluir bem, teve um aumento de peso exponencial e manteve-se com muitos refegos durante muito tempo, por isso, a olho nú, não haveria grandes motivos para acharem que algo não estava bem… mas achavam. “Ai essa bebé está sempre na mama, tens a certeza que ela fica satisfeita?, “Ai ela não pára de chorar, de certeza que sai leite?”… passam 6 meses de amamentação exclusiva, com uma visita às urgências pelos 3 meses por causa de ductos bloqueados, mas que se resolveu com o acompanhamento adequado… “Ainda lhe dás de mamar? Ela não devia estar já a comer?” “Ainda tens leite?”… passa 1 ano… “Ainda mama? Como é que é possível que uma menina tão magrinha ainda tenha leite?”… passam 2 anos e as perguntas começam a ser feitas a ela… “não tens vergonha? Uma menina tão crescida e ainda a mamar?”… o que vale é que ela não liga… e entretanto passam-se 3 anos.
Antes de ela nascer, eu estava a par das recomendações da OMS, e tinha o desejo secreto de poder amamentá-la até aos 2 anos, pelo menos. Mas resolvi pensar por etapas… primeiro vemos se conseguimos até aos 6 meses, depois o ideal era continuar até 1 ano para conseguir introduzir os sólidos através de BLW, e passada a meta de 1 ano, fomos seguindo sempre um dia de cada vez e desejei amamentá-la até ela querer, desde que continuasse a ser também bom para mim. Curiosamente, tirando as primeiras 6 semanas, os primeiros meses de vida dela foram menos desafiantes no que à restrição de sono diz respeito, já que após as 6 semanas e até aos 5 meses e meio dormiu a noite toda. Depois passou a acordar várias vezes durante a noite e só voltava a dormir após mamar. Saiu do berço tipo “next to me” para uma cama de casal no chão onde eu dormia com ela, e assim ficava mais fácil para mim descansar do que andar a fazer piscinas entre quartos. (Só perto dos 3 anos voltou a dormir a noite toda seguida).
Quando ela tinha 1 ano pensámos num segundo filho, mas o facto de amamentar com muita intensidade durante a noite (às vezes de hora a hora) e o facto de ter Sindroma de Ovário Poliquístico não estavam a contribuir para a ovulação regressar. Decidi deixar passar mais uns tempos… e quando ela tinha 2 anos, ainda sem menstruar, procurei ajuda, ciente de que era possível engravidar estando a amamentar e que a inexistência de ovulação se deveria mais à SOP do que propriamente à amamentação. A primeira ginecologista que fui ver, aquela que me tinha ajudado a controlar a SOP com metformina aquando da primeira gravidez (e eu estava com esperança que ela ajudasse na segunda também, até já tinha visto no e-lactancia que a metformina era compatível com a amamentação), disse que amamentar aos 2 anos não fazia nada, que era prejudicial, que depois ia aumentar os ciúmes da mais velha, bla bla bla, e que só me ajudava se eu deixasse de amamentar, passando-me medicação para secar o leite.
Vim de lá de rastos. Não me sentia nada preparada para uma paragem abrupta. Muito menos a minha filha. Procurei outra profissional. E foi então que o meu caminho e o da @draalexandrinamendes se cruzaram. Posso dizer que graças a ela não foi preciso deixar de amamentar para engravidar. E continuei a amamentar enquanto grávida. E hoje tenho a mais nova com quase 5 meses a mamar lindamente, com uma jornada semelhante à da irmã (incluindo alguns ductos bloqueados também 😅), embora eu desta vez tenha recorrido ao apoio de uma CAM para fazer alguns ajustes na pega (ela engolia muito ar) e ao osteopata por questoes posturais porque ela só queria mamar de um dos lados. E tenho a mais velha com quase 4 anos que volta e meia ainda pede o seu miminho.
Moral da história: pode correr bem logo desde o início, não pensem que algo está mal convosco se assim for. Mas vao sempre existir desafios, quanto mais não seja entidades externas que vos colocam em causa.
Informação e os profissionais certos do vosso lado são sempre importantes, quer corra bem no início, quer corra mal, pois são eles que vão fazer a diferença quando os desafios aparecerem. Feliz jornada de amamentação!”
Se queres fazer parte deste movimento, em que juntas somos mais fortes, e acreditas que a tua história pode motivar outras mulheres a amamentar, não hesites em entrar em contacto comigo!!! Estou ansiosa para te conhecer! ❤️