Se há coisa que ainda me causa arrepios é quando as mulheres me chegam com histórias de que a médica disse que deviam oferecer só uma mama para que o bebé tenha acesso ao “leite gordo”.
Quando digo que me causa arrepios, não é aquele arrepiozinho gostoso de quando nos dão um beijinho no pescoço! É mesmo aquele arrepio de filme de terror que quase vem acompanhado de um gritinho de pânico por perceber que ainda se passa este tipo de informação e que os profissionais não se actualizam! Aliás, é mesmo essa a minha tristeza: tantos profissionais que não se actualizam!
Mas vamos lá conversar um pouco sobre este assunto!
Na altura em que a ideia do “leite gordo”surgiu, existiam estudos que direcionavam nesse sentido. E, na verdade, esta ideia acabou por ser importante para se contrariar a “norma” instalada de que só se podia deixar o bebé 10 minutos em cada mama. Assim, estimulando as mulheres a deixar os seus bebés mais tempo na mama para “chegar ao leite gordo”, dava-se oportunidade aos bebés de conseguir mais leite!
No entanto, a ciência continuou a estudar e percebeu que afinal não era bem assim: não existe leite de início (magro) e leite de final da mamada (gordo). A mama só produz um tipo de leite e não há nenhum que tenha mais qualidade do que outro. Todavia, os estudos de Peter Hartmann e dos seus colegas concluíram que a quantidade de gordura dependia do quanto a mama estava cheia. Ou seja, se a mama está mais cheia tem menor quantidade de gordura e se a mama está menos cheia tem maior quantidade de gordura!
Mas, perguntas-me tu, se não há produção de diferentes tipos de leite, porque é que a quantidade de gordura varia assim?
À medida que o leite é produzido na mama, as células de gordura tendem a unir-se umas às outras e a colar-se às paredes dos alvéolos (onde o leite é produzido!). No início da mamada a gordura ainda está bem aderente aos alvéolos mas conforme a mama vai esvaziando, os alvéolos ficam menos distendidos e a gordura consegue “descolar-se” e deslocar-se então em direcção aos ductos e, depois, ao mamilo. Assim, a quantidade de gordura no leite vai aumentando progressivamente ao longo da mesma mamada.
Agora saindo desta teoria toda para a prática. Isto deve-nos fazer ajustar alguma coisa nas nossas dinâmicas diárias??
Não propriamente! Desde que o bebé mame de forma eficaz e sem um controlo da demanda (ou seja, não limitando tempo da mamada nem intervalos entre mamadas!), ou seja, respeitando-se a livre demanda, o bebé receberá todo o leite de que precisa para crescer saudável e fofinho ❤️
Espero que esta informação te tenha sido útil! Partilha-a para que mais e mais mulheres tenham confiança na sua capacidade de alimentar os seus bebés!