Estamos na Semana Internacional do Parto Respeitado 2020!! Informo-te caso não tenhas lido o meu post anterior e também para introduzir o tema que vos trago hoje: a epidural! Se estás grávida ou tencionas estar, é a ti que me dirijo hoje.
A epidural é considerada um must have do trabalho de parto e uma mulher que espera o seu rebento e que partilhe com terceiros o seu desejo de parir sem epidural é olhada como se vivesse ainda na época de Napoleão.
Culturalmente não faz sentido parir com dor! Para quê com tantos avanços na medicina? Mas a verdade pode não ser bem assim. Será que a epidural representa realmente um enorme avanço na prestação de cuidados à díade mulher-bebé?
Antes de avançar…
Antes de avançar quero dizer-te em primeiro lugar que não pretendo fazer aqui qualquer crítica ao uso da epidural. O meu principal objectivo é trazer informação acerca desta temática para que a decisão seja tomada de forma informada e consciente dos possíveis riscos inerentes.
Mas a dor do trabalho de parto é nossa amiga! “Nossa amiga?”, perguntam-me vocês já desesperadas! Sim! Ela é a nossa melhor amiga no momento do parto e passo a explicar o porquê de vos dizer isto. Porque a dor é a nossa bússola. A dor dá-nos a informação de que o momento que esperámos por nove meses está a chegar: o encontro com o nosso bebé.
À medida que vai doendo vai-te dizendo como te podes mexer e que posições podes adaptar para ajudar o teu bebé a encaixar na tua bacia e a passar por ela o mais facilmente possível.
Quando a dor parte (sim! Porque a dor do trabalho de parto é intermitente!) ela dá-te a informação de que é o momento de descansares, respirar fundo e recuperar energias para que te fortaleças para o seu retorno. É a própria dor que vai orientar a tua respiração e as tuas vocalizações e ela vai também dizer-te que tudo está a chegar ao fim.
Para que serve a dor?
A dor é pura fisiologia em acção! Vê o que acontece quando a eliminas:
- Perdes a única forma de comunicação directa com o teu bebé, o que te leva a perder o controlo de um momento que é teu! Deixas de conseguir ouvir o teu bebé e dar-lhe as respostas que ele te pede (posições e movimentos), vês-te obrigada a ouvir e seguir as recomendações/ directrizes dos profissionais que te estão a acompanhar e o teu bebé “faz o caminho sozinho”.
- A epidural interfere na segregação da oxitocina o que pode levar à necessidade de administração de oxitocina artificial. A oxitocina é a hormona que é responsável pela contracção do útero. No entanto, a oxitocina artificial não é o mesmo que a oxitocina que é produzida pelo teu corpo. No teu corpo a oxitocina surge de forma ritmada, o que permite intervalos na contracção uterina que diminuem de forma gradual permitindo uma adaptação da mulher e do próprio bebé. Quando o útero se contrai, nos momentos de dor, o bebé tem menos oxigénio disponível quando comparado aos momentos de intervalo. A oxitocina artificial administrada actua de forma contínua, exigindo um esforço acrescido ao bebé, aumentando o risco de diminuição da sua frequência cardíaca, uma vez que os períodos com défice de oxigenação são mais frequentes, com intervalos mais pequenos ou, até, inexistentes!
- Interferir nas hormonas do parto vai-te privar também dos benefícios que elas te trazem no pós-parto, especificamente na amamentação e no bem-estar após.
- A epidural, através da corrente sanguínea, é absorvida também pelo bebé, por isso ele vai nascer menos desperto e activo, condicionando os seus reflexos inatos extremamente importantes para o início do estabelecimento da amamentação.
- Esta forma de alívio da dor aumenta o risco da necessidade de se utilizar fórceps ou ventosas para a expulsão do bebé. Um parto instrumentalizado, para além dos riscos inerentes ao bebé, apresenta também riscos para a mulher, nomeadamente a maior possibilidade de prolapso, incontinência urinária e dor durante a penetração sexual.
Epidural: Sim ou Não?
Então, com base em tudo isto podes decidir optar na mesma pela epidural mas acredito que o farás de uma forma mais consciente e ponderada.
Todavia, lanço-te o desafio de aproveitares este momento para olhares para dentro e procurares em ti a força e coragem que todas as mulheres têm dentro de si! Todas! Fisiologicamente estamos preparadas para parir e colocar novos seres humanos queridos, fofinhos e minis neste mundo. A sociedade, altamente medicalizada e desconectada dos seus próprios corpos, quer-te fazer acreditar no contrário.
Fez-te acreditar no contrário. Faz-nos acreditar no contrário! Porque tens medo? Do que tens medo? Avalia todas essas emoções, trá-las à consciência e cuida delas.
O trabalho de parto dói sim! Dói muito. Mas acredito que é possível encontrares dentro de ti os recursos de que precisas para superar. Para te superares!
Ultrapassares essa dor depende muito de ti mas também do ambiente que te rodear e da forma como te sentirás cuidada nesse ambiente. Onde queres parir, que pessoas queres ter do teu lado, que ferramentas queres utilizar?
Então, a mão, o colo e o cheiro de quem amas e de quem confias pode fazer muito mais por ti e pelo teu bebé do que as mãos em luvas de qualquer anestesista. Confia em ti!