É sabido que a introdução de leite artificial ainda no hospital representa um factor de risco para o não estabelecimento de um aleitamento exclusivo nos primeiros seis meses de vida do bebé.
ão é feita, maioritariamente, sem reais razões clínicas. Uma das razões mais frequentemente apresentadas para justificar esta introdução é a perda de peso do bebé!! Quem nunca ouviu alguma mãe dizer: “o meu bebé perdeu 11% do peso e eu fui obrigada a dar suplemento!”?
Ao invés de se adoptar uma atitude mais activa na busca de soluções para a amamentação quando ocorre uma perda de peso importante, os profissionais das maternidades ficam histéricos e só se lembram do suplemento (muitas vezes de biberão em punho!).
Vamos então falar do que é que é esperado em termos de perda de peso FISIOLÓGICA nos nossos bebés?
Na Califórnia, um grupo de investigadores estudou 100 000 bebés (muito bebé!!!). Eles foram perceber que alterações ocorriam no peso a cada hora após o nascimento e desenvolveram uns gráficos que representam uma progressão de perda de peso normal. Este grupo foi super original e desenhou, inclusivamente, uma ferramenta online que te permite inserir informação para gerar a curva de perda de peso do teu bebé. Podes espreitá-la aqui: https://www.newbornweight.org/.
Se tiveres interesse em ler o estudo, podes encontrá-lo aqui: “Early Weight Loss Nomograms for Exclusively Breastfed Newborns” by Flaherman and colleagues in Pediatrics, Volume 135, Issue number 1, January 2015. No entanto, vou fazer spoiling e contar aqui algumas conclusões impressionantes a que eles chegaram: “quase 5% dos bebés nascidos por via vaginal e quase 10% dos bebés nascidos por cesariana apresentaram uma perda superior a 10% do peso de nascimento às 48 horas de vida. Às 72 horas, mais de 25% dos recém nascidos por cesariana tinham perdido mais de 10%.” Será, então, a tão famosa “margem dos 10%” verdadeiramente representativa da fisiologia dos nossos bebés?
Mas afinal, o que faz com que haja uma perda de peso aquando o nascimento? A necessidade do bebé expelir o excesso de fluidos que tem, através da urina. A ciência já percebeu que existe uma correlação entre a quantidade de fluidos intravenosos administrados à mãe durante o parto e a percentagem de perda de peso (deixo-te este estudo: “An observational study of associations among maternal fluids during parturition, neonatal output, and breastfed newborn weight loss” by Noel-Weiss and colleagues in International Breastfeeding Journal, Volume 6, Issue number 9, in 2011. ). Quanto maior a quantidade de fluidos recebida, maior a perda de peso registada. A maior parte da diurese (urina) do excesso de líquidos acontece nas primeiras 24 horas. Assim sendo, o estudo que te deixei acima recomenda que seja considerado como primeiro peso, o peso do bebé às 24 horas de vida, em bebés onde tenham sido utilizados fluidos durante o parto.
Na cesariana, a perda de peso é normalmente maior porque existe uma maior utilização de soluções intravenosas e os bebés não passam pelo canal vaginal, não sendo então “espremidos”. Toda a perda de fluidos (que é maior!) será viste nos dias seguintes!
É preciso então colocar em PERSPECTIVA esta « verdade absoluta » dos 10% como indicador para suplementação. Como foi aquele parto? Como está aquele bebé? O que podemos fazer para promover a amamentação nestes primeiros tempos? Vamos olhar para os bebés para além da balança e para as mulheres para além das mamas, promovendo melhores começos numa aprendizagem que já é, por si só, difícil o suficiente.
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